A atmosfera na sala estava pesada, o ar estava rarefeito, substâncias ilegais eram consumidas a uma velocidade galopante.
Muito antes do concerto começar, já havia mijo, beatas no chão ou "garulas" como preferirem, cuspo, cerveja, vinho e garrafas partidas no chão.
Marion Cobretti provoca, choca, cospe e anda à porrada com o público enquanto conta histórias sobre personalidades alienadas e gente de má fama que conspira nas ruínas dos bairros escuros e sujos de Lisboa. ( Bairros de Socialismo Puro e Duro).
A dor passa o ódio fica e começa a missa, a descida ao inferno é feita ás gargalhadas sem culpa nem remorso, sem passado nem futuro e onde o futuro é uma faca afiada.
Solta a cobra que há em ti, segunda facada, um tema já clássico há alguns anos e cantado em uníssono por muitos dos "garulas" presentes. Um tema dedicado a todas as ovelhas negras e a todos os postos de parte desta sociedade balofa e metida na gaveta. Os temas vão-se sucedendo, e segue-se o tema Vida Maldita, uma película real e decadentista das muitas horas fechado no quarto a ressacar e a imaginar o mundo com todo o desprezo que ele merece.
Em seguida, a malha Rebeldes Tatuados e Marion Cobretti pede sangue... e droga.
Glória aos Piratas vem logo em seguida, um hino á liberdade e à boémia, aos caminhos tortuosos que se percorrem na busca de prazer na inconsciência da noite. E segue-se o clássico dos pelados e relvados, Fernando Xalana era Rock n´ Roll, um dos temas mais antigos da banda e também um dos mais celebrados e reconhecidos por parte do público. E então, um dos meus temas preferidos, Tenho o Diabo no Corpo, foi também este tema que mais caos gerou dentro e fora do palco numa perfeita comunhão, celebrando a vitória da decadência rumo à alienação.
O pecado não mora ao lado, o pecado mora aqui onde habitam seres sombrios e marginais, de vidas feitas atrás das grades, de rock feito nas cadeias, de vicíos, mentiras,traições, de curas e recaídas, de sangue, suor, sémen e morte.
A seguir ao tema Casino, Marion Cobretti dispara novamente.
Querem mais carrocel?
Atirem moedinhas.
E a banda abandona o palco no meio dum enorme lixo e caos, no meio de discos foleiros partidos à dentada e à cabeçada, de crucifixos e correntes, de postais do Bruce Lee e de estatuetas alucinantes roubadas em lojas de segunda mão duvidosas, onde cada um sobrevive como pode para orientar uns trocos para enfrentar o inferno do dia-a-dia.
*Artigo escrito pelo meu amigo Kadáver ou José Maria dos Santos Vale na ficha da polícia do Calvário se preferirem.
Lisboa, 13-04-2013, Concerto dos Cavalaria 77 + Clockwork Boys no Fantasma Lusitano Créditos da 1ª foto : Ana Sod Créditos das outras fotos por Carlos M.Silva
Zé Litro (R.i.P.) um bem-hajas por haver-te conhecido e aguarda por mim aí nos céus porque havemos de nos voltar a encontrar, seja de novo no inferno na terra numa reencarnação marada, ou que seja por aí no paraíso dos céus ( se é que ele realmente existe) ...
Esta pequena dedicatória é do editor e "senhor" director do blogue.
Tiveste a homenagem que merecias !!!
Cavalaria 77 em breve terá a sua review aparte, porque também são a segunda banda mais honesta que pisou o planeta terra e ainda um "produto"com alguns defeitos de fabrico mas com muita avaria e os colhões no sitío.
«77 Punk Rock, Feira Popular e Carrinhos de Choque, 77 Punk Rock, Vivendo no Limite, próximo ao choque».