quinta-feira, dezembro 11, 2008

Tribal Connection n'arena

Tribal Connection n’arena





Precisamente cinco meses (a 10 de Julho) depois da última actuação em solo pátrio, aquando do Oeiras Alive 2008, o arraial punk-cigano-Ucraniano-nova-iorquino que dá pelo nome de Gogol Bordello voltou, desta vez em nome próprio. E, passe-se o cliché, que regresso.

Por volta das 19 horas a atmosfera nas imediações do Campo Pequeno estava já a aquecer a noite, quer fosse pelas discussões por lugares de estacionamento nas redondezas, pelos assadores de castanhas ou pela simples expectativa sobre o concerto da noite. Pequena nota sobre o recinto: o facto de o espectáculo se realizar no Campo Pequeno levantou alguma polémica por entre fãs da banda e não-fãs militantes de organizações de defesa dos direitos dos animais, que protestavam no MySpace da banda a escolha de recinto, argumentando que tal escolha significava ser cúmplice da chacina de animais inocentes. Concorde-se ou não, a única chacina da noite foram os 55 minutos de espera pelo começo da festa gypsy punk.

Não tendo havido primeira parte, que se chegou a especular ser feita pelos Portugueses Kumpania Algazarra, os Gogol Bordello tomaram de assalto o palco do Campo Pequeno, qual coluna anarquista de uma qualquer guerra civil mundo afora. Já o público pegou bem o animal de palco que é a banda e o seu líder, Eugene Hütz, produzindo-se uma lide simbiótica de belo efeito.

Depois dos mencionados 55 minutos de espera por entre batidas de um DJ inconsistente e que melhor estaria numa discoteca da moda e do single dos Shout Out Louds transformado em mero jingle pela operadora de telemóveis patrocinadora do evento e de um soundcheck feito apenas por dois técnicos, que demorou mais do que é costumeiro, apagam-se as luzes e eis que, à luz de dois holofotes amarelos, vão surgindo em palco os membros da trupe da rebaldaria, com Hütz no centro. Este revela-se um Arlequim do século XXI (e os Gogol uma Commedia dell’Arte punk ), mas sem máscara e com bigode e o dente de ouro que se impõe, acompanhado por uma banda que vem pregar a folia colectiva e que mesmo com letras imperceptíveis, em várias línguas (incluindo o Português, copacabanesco) a mensagem geral de que mesmo em tempos de crise global financeira, de valores éticos e morais e (nota de quem escreve) num dia de semana é perfeitamente possível to get a kick out of it, não havendo barreiras políticas, visto estarem presentes pessoas cuja indumentária e simbologia sugeria serem quer à esquerda, quer à direita, proclamando a universalidade desta brava dança gogol bordelliana.

A primeira rajada foi em poderoso downtempo, com “Illumination” a servir de bandeja o que se seguiria nos cento e quatro minutos seguintes. Camisolas, copos de cerveja e jovens (e não só, facto curioso) a saltar e a voar por cima dos convivas, em demonstrações de crowd surfing que não cessariam durante todo o espectáculo, para além do inefável mosh. Para a quarta rajada do alinhamento a banda reservou uma caldeirada, tocando “Supertheory of Supereverything”, “Immigrant Punk”, “Dogs Were Barking” e expondo o talento de alguns dos membros, sobretudo os senhores do violino e do acordeão, respectivamente Sergey Ryabtsev e Yury Lemeshev. Por esta altura o público estava já rendido e em turbilhão, movendo-se como se de uma tarantella gigante se tratasse, uma autêntica super taranta, evidente no êxito maior dos Gogol Bordello até à data, “Wonderlust King”. Já “Tribal Connection” teve direito a improviso, o que em muito agradou aos que ali estavam para dar corpo ao manifesto.

Pelo meio, a presença de duas dançarinas, que juntaram ao bombardeio pratos e um bombo, aumentou a presença da turba para oito actuantes em palco, que fecharam o set principal com “Baro Foro”. E eis que o público se viu acometido de clubite musical, cantando-se olés à banda e meia dúzia na frente um “Portugal, Portugal”, todos tendo por objectivo o encore. Encore esse que trouxe uma vez mais a guitarra acústica às costas que nem um mariachi cigano e uma garrafa de vinho ao alto que já tinha acompanhado Hütz em Sines, Paredes de Coura e Algés. “Start Wearing Purple”, com Pink Floyd pelo meio, levou grande ovação e foi correspondida por mais um furioso sapateado do público que lotava por completo a plateia, para onde se registaram alguns saltos de gente cansada do imobilismo da bancada, que por sua vez não estava cheia. Lamenta-se ainda a qualidade de som, que não esteve propriamente má, mas não esteve exactamente brilhante, não aproveitando na totalidade a acústica do local, mas cujo efeito não interferiu na euforia geral.

Mais duas bombardas, com a banda a festejar em ambas as pontas do palco, arrastando consigo o público e por fim o último assalto da noite, “Think Locally, Fuck Globally”, que teve também improviso e final apoteótico a condizer. Baquetas, vénias, braços e palhetas ao ar e sai finalmente a verdadeira band of gypsies. No respeitante ao chamado “gypsy punk”, começou o ano em beleza com Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra (Janeiro, Coliseu dos Recreios) e fechou agora igualmente em beleza com chave de ouro. Ouro esse contrabandeado por esta banda de saltimbancos punk, que em boa hora no Campo Pequeno estabeleceu com os fãs Portugueses uma Tribal Connection.



Eis o alinhamento:

1. Illumination
2. Ultimate
3. When The Trickster Starts A-Poking (Bordello Kind Of Guy)
4. Supertheory of Supereverything / Immigrant Punk / Dogs Were Barking
5. Wonderlust King
6. Mishto!
7. Tribal Connection
8. 60 Revolutions
9. American Wedding
10. Not A Crime
11. Baro Foro

Encore
12. Start Wearing Purple
13. Cynic
14. Mala Vida
15. Think Locally, Fuck Globally




Zé Canivetes a.k.a. Zé Diabo




Rock das Cadeias: Tribal Connection n'arena
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