Entrevista aos infames Mata Ratos:
1.Olá
Miguel, como correram as gravações da banda sonora do apocalipse anunciado?
A
partir do momento em que as gravações começaram, foi de facto uma
‘corrida’…o pior foi mesmo para arrancar: meros 9 anos para
chegar á casa de partida, já andava tudo com cãibras…mas foi
tudo muito bem apesar de termos ido para a Guarda gravar. Foi no
estúdio ‘O Pátio’ do Tiago Dias, que já tinha sido guitarrista
de Mata-Ratos e é primo do Chico o baixista, o que facilitou
bastante todo o processo. Estava era um frio de rachar pelo que
tivemos que levar umas quantas garrafas de algo bem forte para manter
o espirito quente…de resto estávamos bem ensaiados pelo que não
houve percalços de maior…
- Estão satisfeitos com o resultado final?
Estou
muito satisfeito e acho que não falo apenas por mim mas também pelo
resto da banda, produtor, editor e seguidores mais fiéis de
Mata-Ratos. Não damos grandes pregos, tentei fingir que sabia cantar
e o som até está aceitável, por isso…
- O que se pode esperar deste novo álbum?
Nada.
Não estamos aqui para exacerbar as espectativas de ninguém. Ou
então podem esperar o que se espera de um disco de Mata-Ratos, ou
seja, que soe a Mata-Ratos. Já me disseram que está mais simples se
comparado com os dois anteriores. E tenho que concordar, insisti
junto dos infames em manter as coisas simples, em não fazer coisas
complicadas que depois não vamos conseguir tocar ao vivo, ou meter
ideais que serviam para 2 ou 3 temas num único. São casmurros mas
acho que consegui fazer passar a ideia.
- Quais são os temas novos que achas que vão ficar mais na memória dos ouvintes?
Tsunami
de Cerveja já está dominado pelas legiões da infâmia. Os
‘Canibais de Ma’arra’ também estão a caminho, assim como
‘Perder a Cabeça’ e ‘A Visão’.
- Como é estar à frente duma banda há 34 anos, desde 82 certo? "E balanço destes 34 anos? Não só em termos de banda, mas também de cena nacional? Pontos altos e pontos baixos, pessoas que interessa lembrar?
Os
balanços e o pesar dos pratos das balanças de vida passada não me
fazem grande sentido e são exercícios algo fúteis ou para dourar a
nossa própria pilula (somos os maiores) ou para se vestir a pele do
falso modesto (isto não é nada). Pessoalmente – enquanto elemento
dos Mata-Ratos - apenas me interessa o presente, em o viver sem olhar
para o beco traseiro do passado. O que foi, já foi. Bom é agora.
Tenho que referir que nunca estive á frente de nenhuma banda. Os
Mata-Ratos são uma democracia – má, como todas as democracias –
em que todos têm uma palavra a dizer e as decisões são colectivas.
Se as pessoas me olham como o líder dos infames é apenas porque
assim o ditam os estereótipos da popular music: o vocalista é
sempre o chavalo que dá cartas. Não gosto de jogar…outro erro
comum: não estou nos Mata-Ratos desde 82, entrei em 84 apos a saída
do primeiro vocalista, Jorge ‘Morte Lenta’ Leal. Quanto á cena
nacional não sei do que falas ao certo. Teriamos que entrar aqui num
debate prévio dos conceitos ‘sociológicos’ de ‘cena’,
‘movimento’ e afins. Prefiro acreditar que jogamos num campeonato
só nosso.
- Nunca te faltou a pica, vocês são uma banda que dá muitos concertos, houve alguns que te marcaram mais? Quais?
São
todos marcantes pelo menos a quente e até chegar o próximo palco a
tomar de assalto. Mas os que marcam mais são aqueles em que caio do
palco, já foram uns quantos e fiquei bem marcado…esta última vez,
já lá vão mais de dois meses e as marcas teimam em não
desaparecer. Não sei escolher essas cenas, mas posso por exemplo
dizer que foi fixe tocar no palco principal do Barroselas Metal para
fechar a noite sem estarmos sequer anunciados. Depois interessa mais
as pessoas e os sítios e falo de Castelo Branco, Soito/Sabugal,
Porto ou Caldas da Rainha.
- Como foi tocar com as lendas do punk britânico, 999 e os Lurkers?
Não
ligo a essas cenas, ‘lendias’ já não tenho desde os 13 anos.
Desde que não sejam gajos armados em importantes ou ao pingarelho –
o que não é o caso dos 999 e Lurkers - é como tocar com qualquer
outra banda de que se goste, o que raramente acontece.
- Tens outro projecto paralelo chamado Patrulha do Purgatório, banda que foi concebida especialmente para acompanhar o documentário A um passo da loucura, punk em Portugal de 78 a 88, como tem sido a aceitação das pessoas em relação ao documentário e à banda do Purgatório?
Se
queres que te diga, nem sei bem no que toca á aceitação do
documentário. As pessoas dizem bem cara a cara mas podem estar só a
ser hipocritamente simpáticas. Os poucos que me abordam sobre o tema
do documentário fizeram questão de afirmar que adoraram o
documentário. Outros fizeram críticas bastante construtivas o que
só tenho a agradecer. Quanto á banda tem corrido bem e o pessoal
diverte-se a ver a Patrulha em acção e começam a tomar o gosto a
temas clássicos que muitos deles desconheciam. De resto acho que,
como convém a qualquer um que almeje estar em algo designado por
‘underground’, somos totalmente ignorados. E ainda bem. Enquanto
membro dos Mata-Ratos é algo com que aprendi desde cedo a viver e
com o qual me sinto muito confortável. Nunca vou deixar de fazer
coisas só porque não me dão ‘aquele’ carinho e atenção.
Enquanto houver meia dúzia de gandulas e gandulos com interesse,
vale sempre a pena fazer coisas.
- Podemos esperar mais temas originais dos Patrulha, ou vão ficar-se mais pelas versões de grupos antigos?
Já
disse antes que se vamos ficar apenas pelas versões é melhor
esquecer a Patrulha e partir para outra, por isso a evolução
natural é inverter a situação: menos versões e mais originais.
- Dia 10 de Setembro voltam a actuar na provinciana Lisboa, cidade onde não se passa nada. Desta vez no clube Sabotage no Cais Sodré, o que podemos esperar dessa grande festa que se avizinha?
Esta
já vem fora de prazo hehehe. Já foi e foi fixe. Esteve quem tinha
que estar e fez-se a festa tribal a preceito. Mas se tivesse ido
ainda a tempo de responder diria que podem esperar a prestação de
duas bandas de Rock Honesto – Clockwork Boys e Mata-Ratos – e
claro, na primeira fila o grande Tomané Murilhas! Pérolas a porcos,
escreve o que te digo…
- Quais as bandas nacionais e internacionais que mais te têm surpreendido pela positiva actualmente?
Nacionais:
Clockwork Boys, Eskizofrénicos e Cabeça de Martelo. Internacionais:
nenhuma. Não sei o que por ai anda, deixei de ouvir música porque
estou já surdo de um ouvido.
- vocês tocam um pouco por todo o lado de norte a sul, indica aí alguns locais que tenhas especial gozo em tocar ao vivo?
A
Cave 45 no Porto, O Rrustikk no Pechão, Bafo de Baco em Loulé, na
Praça de Touros do Soito onde acontece o Rock in Raia e no
Stronghold nas Caldas da Rainha.
- Palavras finais para os leitores do rock das cadeias: cuidado com o senhor Cobreti que é um cigano do rock’n’roll. Façam cenas e partam tudo, quem fica parado é poste.
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