A Liberdade é a possibilidade de isolamento...
O que me importa o que a vida é para os outros?
A Liberdade é a possibilidade do isolamento.
És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento.
Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espiríto, todas da alma:
és um escravo nobre, ou servo inteligente: NÃO ÉS LIVRE !!! Não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria te força a ser escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia e a que trazes contigo. Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermita humilde superior aos reis, e as deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela. A morte é uma libertação, porque morrer é não precisar de outrém.
Não toquemos na vida nem com as pontas dos dedos.
Quedar-nos-emos indiferentes à verdade ou mentira de todas as religiões, de todas as filosofias, de todas as hipóteses inútilmente verificáveis a que chamamos ciências.
Tão pouco nos preocupará o destino da chamada humanidade, ou o que sofra ou não sofra em seu conjunto.
Caridade para com todos, intimidade com nenhum.
Vive a tua vida. Não sejas vivido por ela.
Na verdade e no erro, no gozo e no mal estar, sê o teu próprio ser. Só poderás fazer isso sonhando, porque a tua vida real, a tua vida humana é aquela que não é tua, mas dos outros.
Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode.
Não te julgues superior ao desprezares.
A arte do desprezo nobre está nisso...
Bernardo Soares
Ajudante de guarda - livros na cidade de Lisboa
«in, O Livro do desassossego»
A Liberdade é a possibilidade do isolamento.
És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento.
Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espiríto, todas da alma:
és um escravo nobre, ou servo inteligente: NÃO ÉS LIVRE !!! Não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria te força a ser escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia e a que trazes contigo. Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermita humilde superior aos reis, e as deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela. A morte é uma libertação, porque morrer é não precisar de outrém.
Não toquemos na vida nem com as pontas dos dedos.
Quedar-nos-emos indiferentes à verdade ou mentira de todas as religiões, de todas as filosofias, de todas as hipóteses inútilmente verificáveis a que chamamos ciências.
Tão pouco nos preocupará o destino da chamada humanidade, ou o que sofra ou não sofra em seu conjunto.
Caridade para com todos, intimidade com nenhum.
Vive a tua vida. Não sejas vivido por ela.
Na verdade e no erro, no gozo e no mal estar, sê o teu próprio ser. Só poderás fazer isso sonhando, porque a tua vida real, a tua vida humana é aquela que não é tua, mas dos outros.
Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode.
Não te julgues superior ao desprezares.
A arte do desprezo nobre está nisso...
Bernardo Soares
Ajudante de guarda - livros na cidade de Lisboa
«in, O Livro do desassossego»
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