Livro sobre Vilar Mouros à venda !!!
Memórias dos festivais de Vilar de Mouros pela primeira vez em livro
Crédito: Agência LUSA
Vilar de Mouros - Onde é que estava em 1971?
Crédito: Florbela Alves/Visão nº 541 - 17.Julho.2003
Crédito: Agência LUSA
Histórias inéditas, memórias que quase se perderam e imagens de
concertos inesquecíveis estão reunidas no livro "Vilar de Mouros, 35
anos de festivais", de Fernando Zamith. É a primeira vez que a história
de um evento de música rock é descrita e compilada numa obra,
simultaneamente documental e de homenagem ao seu fundador, António
Barge, falecido em 2002.
Em declarações à Agência Lusa, o autor e jornalista explicou que o livro
é dedicado a um homem "idealista e visionário" sem o qual o "festival
de Vilar de Mouros não tinha existido".
Repartido por três grandes capítulos, o livro apresenta uma descrição
cronológica de todos os festivais realizados na aldeia nortenha de Vilar
de Mouros, começando por um festival infantil realizado em 1937.
Para Fernando Zamith a melhor de todas a edições foi a de 1982 que,
apesar da desorganização, considera ter sido um "verdadeiro happening",
com nove dias seguidos de música, vividos com "grande intensidade".
Nos últimos anos, com o aparecimento de outros festivais com cartazes
apelativos, como o Sudoeste e o de Paredes de Coura, Fernando Zamith
acredita que muita gente vai a Vilar de Mouros por ser precisamente
Vilar de Mouros e não tanto pelo cartaz.
Jornalista da Agência Lusa e professor na Universidade do Porto,
Fernando Zamith revelou ainda que no futuro poderá ser criado um museu
em Vilar de Mouros, embora o projecto esteja ainda no papel.
Agência LUSA
Vilar de Mouros - Onde é que estava em 1971?
Crédito: Florbela Alves/Visão nº 541 - 17.Julho.2003
Os 35 anos do festival acabam de ser registados em livro. Tudo começou
em 1968, a partir da carolice de um médico. Estórias do mais lendário
festival português
Os Beatles bem podiam ter passado por cá. Corria o ano de 1971 e o
médico António Barge, apaixonado pela música e pelo Minho, depois de, em
1968, ter conseguido organizar um festival de música popular que já
prometia algo mais, teimava agora em querer levar à pequena aldeia de
Vilar de Mouros algumas das melhores bandas internacionais de pop rock
da época. Os Beatles ainda estavam na moda, mas acabaram por se separar
pouco tempo antes de o médico os poder contratar. Não conseguiu o grupo
de Liverpool, mas trouxe uma lista não menos arrojada: Elton John,
Manfred Mann, Amália Rodrigues…
Muitas estórias fizeram a vida do primeiro grande festival do País.
Agora, podem ser recordadas no livro Vilar de Mouros, 35 anos de
Festivais (250 páginas, Edições Afrontamento). Resulta de um trabalho de
pesquisa de Fernando Zamith, jornalista e filho da terra, que embora
não tenha assistido à génese do festival, não tem perdido pitada, desde
1982. O livro começou a ser delineado durante a edição de 2002, como o
próprio conta: «António Barge, o ‘inventor do festival’, tinha morrido
meses antes e muitos outros protagonistas e figuras típicas da aldeia já
cá não estavam; qualquer dia, pensava eu, já não haverá ninguém para
relatar aquelas histórias que ficaram por contar.»
Uma das peças-chave foi Amélia Barge, viúva do médico e que o acompanhou
na organização de todos os festivais. «Cheguei a emagrecer 15 quilos»,
recorda à VISÃO. «Entre armar e desarmar barracas, colaborei em tudo,
sempre.» E o «sempre» começou em 1965/67 quando Barge promoveu um
festival de folclore internacional. Em 1968, foi mais ousado e, do
cartaz, faziam mesmo parte alguns nomes incómodos: Zeca Afonso, Carlos
Paredes, a Banda da Guarda Nacional Republicana (cem elementos que
ficaram alojados num convento de freiras). No desdobrável, Zeca Afonso
era descrito como «o famoso criador de um novo estilo de canção
portuguesa, inspirada na forma de balada». Simples, para evitar
incómodos. Amélia Barge ainda recorda os avisos da mulher de Zeca: «Ela
dizia--lhe: ‘Não cantes as canções proibidas que ainda vais preso.’ Mas o
público pediu, e ele acabou por cantá-las.»
Elton à boleia de Isidro
Não havia managers, produtoras, catering, nem sequer hotéis. «Os músicos
dormiam em casa de amigos e em Viana do Castelo. A porta de minha casa
estava aberta, os nossos quartos eram para as visitas e nós dormíamos a
monte, no sótão», desfia Amélia Barge. Mas o médico queria fazer uma
coisa em grande: além de gostar de música, pretendia potenciar a região
para o turismo e levar o nome de Vilar de Mouros a todo o País. Levou
três anos a preparar o festival de 1971, o tal que trouxe a Portugal
Elton John, na altura com 24 anos.
O Woodstock tinha acontecido em 1969 e Barge pensou: «E se se fizesse
uma coisa para a juventude?», recorda a mulher. Além de Elton John, o
médico foi buscar o sul--africano Manfred Mann, e conseguiu duas
estreias de… obras de Joly Braga Santos e António Victorino d"Almeida.
«Centenas de jovens demandaram a aldeia. Foram de roupas coloridas e
práticas, mochilas e sacos às costas. Lançaram-se para a estrada,
contando com a boa-vontade dos automobilistas», relatavam os jornais.
Até o próprio Elton John foi à boleia de Júlio Isidro para Viana do
Castelo, onde ficou alojado. Manfred Mann e Elton John diziam que o
público era «bem-comportado». Amélia Barge lembra-se de que, durante o
concerto, o músico inglês lhe perguntou: «Acha que eles estão a gostar?»
«Estão», garantiu a organizadora. «Mas eles não se manifestam?»,
questionou Elton John. «Não, cá em Portugal é assim», afiançou Amélia
Barge.
Muitos prejuízos
O grande problema de António Barge foi sempre o financeiro. A vinda de
Elton John custou 600 contos e os (prometidos) subsídios não passaram de
promessas. O único dinheiro que recebeu foram 30 contos, oferecidos
pelo Secretariado Nacional de Informação. «A RTP prometeu, mas… não deu.
E o festival redundou num prejuízo, descomunal, de mil contos. «Não
tivemos coragem de repetir», recorda Amélia Barge. Em 1975, Barge
projectou um festival diferente no conteúdo – incluía cinema, teatro,
pintura e escultura – mas as altas temperaturas políticas da altura
fizeram abortar a ideia. Foi preciso esperar mais sete anos.
Em 1982, o presidente da Câmara de Caminha, Pita Guerreiro, resolve
reeditar a festa (com Barge na organização) e, depois de constantes
alterações do programa, Vilar de Mouros recebe, durante nove dias, os
U2, Johnny Copeland, Erika Pluhar, Tom Robinson, entre outros. Voltaria a
dar prejuízo. Em 1985, os Trovante e Emilio Cao encabeçam ali um
«desconcertante» I Encontro de Música Popular. Segue-se um intervalo de
dez anos. Até que o festival regressa, em 1996, agora altamente
profissionalizado, promovido pela produtora Música no Coração, com o
patrocínio da Super Bock.
De então para cá é o que se sabe: uma romaria certa, todos os Verões. E
se, nos anos 70, o apoio logístico era quase inexistente – o público
chegou a fugir para Caminha, à procura de comida, e os cafés da região
fecharam «com medo da invasão» –, agora não falta nada. E, se faltar, os
telemóveis ou as centenas de carros que se deslocam a Vilar de Mouros
dão uma ajuda.
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