quinta-feira, dezembro 20, 2012

Entrevista póstuma a Marquês, vocalista dos Avô Varejeira ( Punk Rock do Alentejo )


1. Podes-nos contar um pouco acerca da longa história da banda, sei que começaram ainda muito jovens em 1989 e que duraram várias décadas, mas muita gente não sabe ou conhece mais coisas acerca da banda.

Bem não se pode dizer que temos uma longa história, pelo contrário.
Começámos muito cedo sim, com 13 ou 14 anos de idade queriamos era fazer barulho e berrar e era isso que faziamos. Durámos até 92, ano em que demos o "último" concerto.
Depois o Avô Varejeira ressucitou em 2008 ao aceitar um convite feito pelo Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre para um concerto de reunião da banda. 

A banda esteve activa mais dois anos. Demos 4 concertos acho eu.
O Avô Varejeira raramente saiu de casa para tocar noutros palcos. Éramos um grupo de amigos todos do mesmo bairro.
Tocávamos para os amigos e para quem nos quisesse aturar, e nunca partimos para uma postura mais profissional ou mais séria. Com a reunião em 2008 conseguimos atingir um nível melhor musicalmente, porque houve de facto investimento da banda, mas acabámos por nos dissolver.

2. Porquê na altura a escolha do nome  Avô Varejeira ?

Andava à procura de um nome para a banda porque estávamos fartos do nome que tínhamos antes ( Sulfamidas ) que até é bem fixe. (nota de editor: concordo).

Até que um dia, estava a folhear o Blitz - uma das coisas que gramava no jornal era ler sobre as bandas que existiam por esse país fora na altura - e então achei piada ao nome de uma banda que se chamava Pai Melga. Avô Varejeira surgiu como uma espécie de "superlativo".

3. Quais eram as vossas principais influências músicais?

Na altura o pessoal curtia o punk em português: Veneno dos Peste & Sida, Xutos, Mata-Ratos... e o british dos Sex Pistols aos Toy Dolls e Exploited. Depois apareceu a cena hardcore com D.R.I., Suicidal Tendencies, e o boom dos Censurados.
Éramos putos e andávamos na onda. Hoje, acho que musicalmente muita coisa boa me passou ao lado na altura mas pronto, faz parte. A música tinha de ser agressiva...

4. Quais os principais assuntos abordados nas vossas letras e quais os teus temas preferidos dos Avô Varejeira? 

Os temas abordados são a crítica e sátira social. Ás vezes ganha contornos mais políticos outras vezes é mais a vivência e a experiência humana que está em foco. Também se abordam ambientes fictícios série B e comics como o próprio Avô Varejeira sugere. Os meus temas preferidos... não sei... "odeio o teu mundo", "sem rei nem rock", "o cicerone", "jaime C." .... sei lá já nem me lembro das músicas eheh.

5. Chegaram a editar nos primórdios da banda algum material mais antigo?                                  Que material têm editado até aos dias de hoje? 


Nunca editámos nada oficialmente. Eu fiz um DVD do concerto de 2008, fiz outro do de 2010 que nao cheguei a divulgar.
Também fiz e pu
z a circular um DVD com o concerto de 92 onde se pode ver bem "o que" nós éramos na altura e o ambiente.
O concerto de 92 foi filmado em VHS e é uma preciosidade enquanto registo histórico - enfim nós não tocávamos grande coisa mas é engraçado ver.

6. A banda terminou actividade recentemente, mas fica-se com a ideia de que a banda deixou um grande legado, sobretudo na vossa região do Alentejo, partilhas da mesma opinião?

"Grande legado" acho que é puxado, mas criámos, ou melhor, criou-se, uma certa mitologia à volta do nosso nome. Se calhar devido a termos começado muito cedo e termos ganho a simpatia do público portalegrense . Depois já sabemos que efeito causa o "desaparecimento" prematuro.... eheh

8. Que novos projectos tens acompanhado? Existem por aí pela vossa terra algumas bandas novas que aches que merecem divulgação?

Sempre houve aqui bandas, não muitas, mas sempre houve. Estamos a falar da capital de distrito mais "atrasada" da Europa e de um meio relativamente fechado ao exterior - refiro-me aos acessos - é difícil cá chegar e é difícil sair para quem não tem transporte próprio. Neste momento há uma boa diversidade de estilos musicais a serem praticados pelos jovens aqui da terra e o pessoal até se esforça e tem gosto nas cenas que faz e se antes achava que havia um bocado falta de cultura musical, hoje acho que há bastante mais e que se leva as coisas mais a sério.
Dentro do punk temos os Skina Carroça que tocam um punk sujo e cru que é mais do meu agrado. Estes putos, os Skina têm 2 ou 3 malhas muito boas. Muito orelhudas como "faca no pescoço" e "pirata punk". se procurares no Youtube és capaz de encontrar ( nota de editor: sim conheço bem, já publicámos o vídeo deles aqui no blog e conheço o João Delicado).

9. Vocês foram uma banda que ia atrás das coisas, nao ficavam parados à espera que as coisas acontecessem, e a ideia que tenho é que o vosso material é todo auto-editado por vocês, estou certo?

Sim estás certo. É o D.I.Y. levado ao extremo. eheheh

10. Haverá a possibilidade futura de vir a acontecer um outro concerto de reunião da banda?

Bom, não quero fazer futurologia, mas não será fácil voltar a reunir os Varejeiras. 

É mais provável que eu apareça a tocar com amigos algum ou outro tema dos Varejeiras e temas novos que ando sempre a compor. Agora ando a ensaiar umas coisas com pessoal também dentro do "cantado em português" mas é muito mais abrangente em termos de estilos musicais, desde o popular ao folk punk blues passando pela canção ligeira.

11. Palavras Finais ( caso queiram acrescentar alguma cena) :

Opa, obrigado pelo interesse e pela atenção.
Realmente gostava de tocar convosco. Talvez um dia, nunca se sabe.
Eu se conseguisse um meio de substência num lugar com mais músicos e música e diversão ia já fazer as malas mas tenho de trabalhar para pagar uma renda, por isso deixo-me estar.
Mais uma vez obrigado pela atenção e interesse. Um grande abraço ( nota de editor: outro grande abraço e boa sorte nos novos projectos musicais.  Fica combinado um copo um dia destes).


http://www.facebook.com/pages/AV%C3%94-VAREJEIRA/122715434424040?fref=ts

( link da página de facebook da banda)

Fiquem com um vídeo ao vivo  no Centro de artes e espectáculos de Portalegre :


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Rock das Cadeias: Entrevista póstuma a Marquês, vocalista dos Avô Varejeira ( Punk Rock do Alentejo )
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